sábado, 10 de julho de 2010

Encolhida naquele lugar, olhando o parque das crianças coberto de neve. Olhando, mas sem ver.
Meu pensamento estava em outro lugar. Mais precisamente no escritório do meu pai. Onde eu estive algumas horas. E vi tudo que ele havia me ensinado simplesmente ruir.
Com raiva uma lágrima correu pela minha bochecha que diferente do tempo ali fora, queimava. Não consegui mover minha mão para secar a gota intrometida.
E a lágrima escorreu pelo pescoço até encontrar a gola da blusa, onde ela parou. E logo despois desta lágrima, uma sequência de outras passaram a rolar.
E a visão de meu pai, aquele que me abraçava e aconselhava, beijando ninguém menos que minha melhor amiga, simplesmente não saia da minha mente.

Aquilo era traição demais, Mentira demais.
Ele sempre me ensinou a ser correta. A ser boa, racional. Tudo MENTIRA!
E com minha amiga? Aquela por quem eu nutria o maior carinho? Confidenciava sentimentos, e ouso até dizer aquela que eu AMEI!
Se engana ela se pensa que irá se redimir comigo.
E minha mãe?
como olharei pra ela hoje. sem lembrar que era traição com ela também?
Se eu contar serei a pessoa que iniciará uma série de momentos ruins. E se não contar serei cúmplice.
Nesta hora notei que eu mordia meu lábio inferior com mais força do que eu imaginava. E só notei isso porque eu senti o gosto de sangue.
E ao olhar minhas mãos já cianóticas de frio, vi que também sangravam. com os arranhões que eu mesma havia feito sem notar.
Eu queria gritar... eu queria correr.
Queria machucar eles. Para que eles sentissem a mesma dor que eles me faziam sentir.
E era exatamente isso que eu ia fazer.
Neste momento, levantei do lugar onde eu estava e fui para casa. Cega pelas lágrimas e guiada pela raiva.
Na porta de casa eu parei, lembrei de minha mãe. Ela estava no trabalho. Movida por essa confiança, entrei. Agora era tarde pra voltar atrás. E eles iriam merecer isso.
Fui até o quarto de meus pais, direto a caixa que ele mantinha escondida, e não sabia que eu sabia de sua existência.
Peguei a caixa toda e coloquei na mochila. O barulho de metal batendo me seguiu até o escritório de meu pai. Onde entrei e dei de cara com a mesma cena. Neste momento eu bati na porta com força. Queria gritar, mas sabia que a voz não sairia.
E os dois com os rostos vermelhos, me olharam apavorados. Meu pai abriu a boca para começar a falar, mas eu estendi a mão para que ele se calasse.
Puxei a caixa da mochila e joguei sobre a mesa. A cara vermelha do meu pai mudou repentinamente para o branco de pavor.
Da caixa eu puxei um papel cuidadosamente dobrado e uma caixinha vermelha de plástico.
Entreguei o papel para a Traidora que minha amiga tinha se revelado. Logo agora que eu estava tão feliz. e abri a caixinha que continha nada menos que uma correntinha com um pendente de metal com uma letra gravada nele.
O papel se tratava de um exame de sangue. que comprovava que ela, aquela maldita traidora, era filha de meu pai. de um relacionamento que ele não quis assumir. Afinal tínhamos a mesma idade. o que prova que era um caso extra-conjugal. O rosto dela ficou sem sangue repentinamente. e ela me olhou, e as lágrimas começaram a rolar. A cara dela era um misto de culpa, pedido de desculpa e raiva.
Ela olhou para nosso pai. Que segurava a correntinha de olhos baixos. e fez algo que eu jamais esperei que ela fizesse. E algo pelo qual eu me culparei eternamente.
Largou a carta sobre a mesa foi em direção a janela. Abriu, e saltou.
Amiga/irmã perdida. Pai perdido. Vida perdida.

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