
Entre no meu mundo, veja como ele é... Sinta , prove, cheire... Com todos os sentidos, e mesmo assim não saberá como ele é!
terça-feira, 20 de julho de 2010


domingo, 18 de julho de 2010

Você já sofre de insônia?
sábado, 10 de julho de 2010
quarta-feira, 7 de julho de 2010
terça-feira, 6 de julho de 2010
Tudo estava silencioso....
Nem mesmo os insetos se permitiam fazer barulho, talvez por causa da tensão que pairava no ar da noite, ou quem sabe o cheiro de sangue incomodava os sentidos até mesmo dos insetos.
A cena estava longe de ser uma cena bonita.
Jamais ninguem iria fotografar, nem pintar e muito menos comentar um momento como aquele. Nem mesmo os artistas mais ávidos de sangue iriam querer degustar as feições de pânico estampada nos rostos jovens e mortos.
Todos os rostos mortos.... pálidos.... Alguns cobertos de sangue, outros de terra e alguns ainda era irreconheciveis
Por que?
Alguem sabe me responder por que aquela bomba fora jogada ali? Ninguem perguntou para a morte, ou melhor dizendo, pra mim o que eu pretendia fazer naquela noite. Será que eu nào esperava ouvir radio e tomar chá como a maioria das familias faziam em tempos de paz?
Será q eu nao tinha um ingresso pra opera?
Não...
Ninguém nunca pergunta: "o que será que a ceifeira pretende fazer esta noite, será que nao atrapalharei seus planos morrendo???"
E aqui estava eu....Em uma das mais dolorosas cenas que eu presenciei em todos esses seculos de trabalho árduo e interminavel.
Uma bomba meus caros...
Uma enorme bomba...
Em um hospital de guerra...
E só uma figura se destacava no meio de tudo isso
Uma pequena garotinha de cablos avermelhados e pijama branco...
Mas essa estava longe de ser uma das vitimas... Nem mesmo outra ceifeira.....
Imaginem.... pra que 2 em uma mesma tragedia?
Em tempos de guerra como essa.. Que diga-se de passagem foi a pior que já presenciei....
Era um país por ceifeira... E fiquei satisfeitas
maldito trabalho não remunerado. Eu sequer escolhi isso
Comecei meu trabalho recolhendo uma por uma daquelas pobres almas. Enterrando as minhas maos gelidas nos peitos daquelas pessoas que um dia tiveram uma historia, e retirando a sua pequena essência, sua fagulha de vida, sua consciência, e depositando no frasco, que parecia mior que coração de Mama, sempre tinha lugar pra mais um. E depois depositar todas essas memorais na nossa imensa bacia , onde elas seriam tratadas e depois recolocadas em novas carcaças, pra adquirir mais memorias e enriquecer o nosso banco de dados.
vendo por esse lado poderiamos pensar que eles eram apenas formigas. Mas nao eram
fui um deles certa vez. E acredite, aprendi a ama-los. Mesmo com tanta podridão e escuridão no coração humano.
recolhi uma por uma e coloquei no meu frasco. Vi a memoria de todos quando os tocava. Podia ver tudo.
Quem eles foram, não somente nessa, mas em todas suas vidas. Mas um deles realmente tocou fundo em meu coração, há muito tempo parado. Afinal, fui uma dama certa vez e esse coração, eu amei quando meu coração ainda batia. Conhecia essa historia, vi meu proprio rosto refletido nos olhos deste homem. Não fazia muito tempo, pelo menos nao pra mim. Realmente aos olhos dele eu era mais bonita do que aos meus olhos. Ele estava diferente e o coração dele... Quebrado, cheio de magoas e dores. Afinal porque?
Vamos voltar só um dia nessa historia e tudo fará muito sentido.
Era um dia normal, eu já havia sido avisada da tragédia. e do trabalho extra. Estava a espera naquele hospital muito movimentado onde não se fazia mais diferença entre enfermeiros e médicos, todos atendiam igual. Feridos vinham de todos os lados e nao havia tempo. A vida gritava em todos os seus momentos.
o medico corria apavorado de um lado para outro. 3 amputaçoes, um parto e 26 mortes, em um unico dia. Ele era jovem e recem formado. Não fora recrutado pra guerra dado seu problema pulmonar que quase lhe custou a vida quando era pequeno. Mas nessas situações não se fazia distinção. Médicos eram médicos.
Mais uma ambulancia chega cheia de feridos do front. Ele ouve chamarem seu nome alto e vai ate a ambulancia e tira todos de lá, e a pequena garotiha ruiva estava sentada no fundo do carro, perfeitamente bem e linda. Ele pensa por um segundo quem era a garota, mas nao tem tempo de se deter nisso. corre para colocar todos nos seus lugares, todos sendo atendidos. Um minuto de calma e ele é chamado para uma cirurgia. Estilhaços de um projetil no peito de um jovem de 18 anos. Ele nem pede nome, corre para a sala, sem tempo sequer de trocar de jaleco. Na mesa de cirurgia, ele vê o rosto do proprio irmao se contorcendo de dor. Morrendo, pálido. Ele precisa salvar o garoto. Precisa... Aqualquer custo.
A dor no seu proprio peito é excruciante, ele tenta por longas 3 horas, mas o garoto morre, apertando sua mão. Nesse momento o relogio parou, ele já não ouve mais nada. Perdera tudo.... e todos mortos. Todos eles....
Entra em um estado catatonico e vai ate um banco que ficava perto de uma janela, senta ali, com o rosto entre as mãos. As lagrimas nao correm mais, ele já havia morrido por dentro. Um milesimo de segundo, a menina ruiva esta caminhando próximo dali... com os pequenos pés descalços no chão frio. Ela toca o ombro do médico, e ele alarmado com a maozinha quente olha pra menina, que some no ar e ele logo ve uma enfermeira correndo desesperada e gritando.
Ele nao entende o que ela fala. E nao consegue se mover. Ela aponta para a janela e ele olha. Aquela visão pareceu durar anos. A bomba enorme vindo em direção a ele.
sem se mover ele fecha os olhos e tudo fica em silencio. O frio toma conta, nada mais importa a unica coisa que permanece ali é a saudade e a visão da pequena menina que não fazia perte desse mundo.
A correria que aconteceu ali foi grande mas todos morreram. Não houve tempo pra nada. Nenhum adeus. Nenhum bilhete. Nenhuma carta, nenhuma foto. Apenas eu. Horrorizada com a situação, esperando minha vez de trabalhar
Ah! Esse coração.
Chorei com suas memórias. Chorei de saudade. Chorei de pena. Chorei de amor. Chorei de compaixão. E o que me resta?
Levei o frasco para o lugar onde deveria levar. Ainda com minhas lagrimas escorrendo, cega. Despejei seu conteúdo no enorme lago que as memórias formavam.
Já havia ouvido historias sobre o fim das ceifeiras. Sobre o que acontecia com elas depois de algum tempo. Mas jamais tinha visto acontecer e nem me importava, a dor me dizia o que fazer. Larguei meus pertences ao lado da borda e mergulhei, ainda chorando no lago da consciência e da memória.
E ali, a dor cessou. Ali, a agua lavou meu coração há muito parado.
E todo o ciclo iria iniciar novamente
A vida é algo terrivel e maravilhoso,
Que deve ser aproveitada de uma maneira homeopática e exagerada,
Como se fosse morrer amanha, mas viver para sempre,
Como se tudo fosse belo, mas ao mesmo tempo absurdo,
Como se tudo valesse a pena, e mesmo assim nada lhe prendesse a atenção.
Falo isso porque conheço tudo, mas não vi nada,
Por que conheço a vida, mas jamais a enfrentei,
Descobri cada uma de suas facetas, mas jamais procurei por elas.
Descobri cada uma de minhas facetas, e ainda existem mais mil dela para serem descobertas.
Conheci cada um dos meus medos, mas tenho medo de ver quais são eles.
Amei cada pedaço da minha vida, mesmo aqueles que eu odeio.
Sorri todos os meus dias, mesmo nos momentos que estava chorando.
Tudo muito dúbio, tudo muito sem sentido
Tudo contraditório.
Por que nada nesse mundo tem apenas uma verdade
Existem facetas, versões de uma mesma historia.
E cada uma delas vale ser ouvida, descoberta, ignorada e apagada.